Um grupo de 17 cientistas premiados com o Nobel decidiu adiantar em dois minutos o Relógio do Apocalipse, uma figura simbólica que desde 1947 alerta sobre a vulnerabilidade do mundo diante de um desastre em escala planetária. O relógio está agora a três minutos da “meia-noite”: uma catástrofe global.
O relógio, criado pelo Boletim de Cientistas Atômicos da Universidade de Chicago (EUA), só se moveu 18 vezes em toda sua história. A última vez que esteve tão próximo do fim do mundo foi em 1984, com os EUA e a URSS em plena Guerra Fria. Em 1991, estava a 17 minutos.
“Em 2015, a mudança climática sem controle, a modernização global das armas nucleares e os descomunais arsenais atômicos representam extraordinárias e inegáveis ameaças à existência da humanidade”, explica o conselho científico do Boletim na sua página na Internet. Este órgão tomou a decisão, juntamente com um grupo de assessores que inclui 17 nobéis e outros prestigiosos pesquisadores, como o físico britânico Stephen Hawking.
“Os líderes mundiais não agiram com a velocidade e a escala necessárias para proteger a população de uma potencial catástrofe”, critica a nota. Os pesquisadores lembram que 2014 foi o ano mais quente desde o início dos registos em 1880 e que 9 dos 10 anos mais quentes ocorreram desde 2000.
“Sem uma drástica mudança de rumo, os países do mundo terão emitido, no final deste século, CO2 e outros gases do efeito estufa em quantidade suficiente para transformar profundamente o clima da Terra, prejudicando milhões e milhões de pessoas e ameaçando muitos sistemas ecológicos dos quais a civilização depende”, alertam.
Os especialistas denunciam também que “os esforços para reduzir os arsenais nucleares do planeta pararam”. Enquanto os EUA e a Rússia melhoram os seus depósitos atômicos, outros países com armas nucleares – como o Reino Unido, França, China, Paquistão, Índia, Israel e Coreia do Norte – unem-se “nessa modernização louca, cara e extremamente perigosa”. Os EUA gastarão 355 bilhões de dólares na próxima década para realizar essa modernização, de acordo com o Boletim.
“A probabilidade de uma catástrofe global é muito alta e as acções necessárias para reduzir o risco de desastre devem ser tomadas o quanto antes”, concluem os cientistas. Entre os prémios Nobel, encontram-se Masatoshi Koshiba, pioneiro no estudo dos neutrinos, e Leon Lederman, o físico que baptizou o bóson de Higgs de “a partícula divina”.